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História de resistência de Esperança Garcia é retratada em quadrinhos para todos os públicos

A HQ A Voz de Esperança Garcia tem uma abordagem inovadora e tem alcançado principalmente o público infantojuvenil.

20/11/2024 às 16h50 Atualizada em 20/11/2024 às 17h00
Por: Redação
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Neste dia 20 de novembro, celebra-se o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, com uma rica programação no Piauí, em diversos espaços nos municípios, uma oportunidades para uma reflexão profunda sobre a luta das pessoas negras por direitos e igualdade. 

A história registrada em livros também desempenha um papel fundamental nesse processo, mas ganha uma nova dimensão quando retratada em quadrinhos, tornando-se ainda mais acessível e envolvente. No Piauí, a HQ A Voz de Esperança Garcia é um exemplo claro dessa abordagem inovadora.

 

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

A história de Esperança Garcia, uma mulher escravizada que se destacou pela luta contra o racismo e por direitos humanos, ganha nova vida nas páginas deste quadrinho. De autoria do escritor e pesquisador piauiense João P. Luiz, o "Pikachu", em parceria com o quadrinista Bernardo Aurélio, a obra tem alcançado principalmente o público infantojuvenil, trazendo à tona a trajetória de resistência de Esperança Garcia e sua contribuição para a luta contra a escravidão e o machismo.

Segundo João P. Luiz, os quadrinhos são uma mídia democrática, com grande potencial para atingir públicos diversos, incluindo aqueles que não teriam acesso a livros tradicionais.

 

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

A obra foi pensada especialmente para alcançar pessoas negras e comunidades periféricas, oferecendo a elas a oportunidade de conhecerem a história de Esperança Garcia e se conectarem com sua luta.

"Quando criamos a HQ de Esperança Garcia, foi para ela ser uma opção mais acessível. Eu acredito muito no poder da linguagem e da literatura, e vejo o quadrinho como uma forma mais próxima da população, que chega mais rapidamente, contando uma história de maneira envolvente. Eu queria fazer um livro, mas percebi que o quadrinho seria mais democrático, alcançando lugares onde o livro tradicional não chega, como nas mãos de uma criança ou de um jovem leitor", explica o escritor.

 

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

O autor se diz surpreso com a repercussão da obra, que, mesmo lançada há quase dois anos, continua gerando interesse, com entrevistas no Piauí e até em outros estados, como Minas Gerais, onde ele apresentou a HQ. 

Para João, Esperança Garcia não é apenas a primeira advogada do Brasil, mas também uma mulher que mudou a forma como a escravidão foi percebida no país. "Ela não é só a primeira mulher negra que se manifestou sobre literatura no Brasil, mas também foi a pioneira na luta contra a escravidão e o machismo. Ela não é só uma figura histórica, é uma voz que desafia o racismo", destaca o pesquisador.

 

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

Sobre Esperança Garcia

Pesquisadores apontam que Esperança Garcia nasceu na Fazenda Algodões, em Oeiras, então capital do Piauí, propriedade de padres jesuítas. Foi nesse local que ela aprendeu a ler e escrever. Aos 16 anos, casou-se e teve seu primeiro filho, mas logo após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, a fazenda foi entregue a outros senhores de escravizados.

Em sua luta para ser reunida com seus familiares e denunciar as violências que sofria, Garcia escreveu uma carta ao Governo do Piauí, datada de 6 de setembro de 1770, na qual narra os abusos e reivindica justiça.

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

Mulher negra escravizada, Esperança Garcia foi reconhecida como a primeira advogada piauiense em 2017 pela OAB/PI. Em novembro de 2022, o Conselho Federal da OAB reconheceu Esperança Garcia como a primeira advogada do Brasil. Em maio de 2023, um busto em homenagem a ela, reconhecida como a primeira advogada do país, foi inaugurado na sede do Conselho Federal da OAB, em Brasília, e também na sede da seccional da ordem no Piauí.

 

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

Petição

Em 1770, Esperança Garcia escreveu uma petição ao governador da capitania em que denunciava as situações de violência pelas quais seus filhos e suas companheiras passavam e pedia providências. Dia 6 de setembro, data da escrita da carta, foi instituído o Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí, no ano de 1999. Em 2016, foi criada a pós-graduação em Direitos Humanos em sua homenagem em Teresina, Piauí.

O documento histórico é uma das primeiras cartas de Direito que se tem notícia. É um símbolo de resistência e ousadia na luta por direitos no contexto do Brasil escravocrata no século XVIII, mais de cem anos antes de o Estado brasileiro reconhecê-los formalmente. 

Esperança Garcia possivelmente aprendeu a ler e escrever Português com os padrões jesuítas catequizadores. Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, ela foi transferida para terras do capitão Antônio Vieira de Couto. Longe do marido e dos filhos maiores, usou a escrita como forma de luta para reivindicar uma vida com dignidade.

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