Nos últimos anos, a inteligência artificial tem deixado de ser apenas tema de ficção científica para ocupar um espaço real no cotidiano de profissionais das mais diversas áreas — inclusive da literatura e do audiovisual. O ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, tornou-se um recurso recorrente entre autores, roteiristas e criadores de conteúdo, despertando tanto entusiasmo quanto desconfiança. Mas, afinal, quais são os prós e contras de se utilizar uma IA na criação de livros e roteiros?
Os prós: produtividade, estímulo criativo e acessibilidade
Um dos principais atrativos do ChatGPT para escritores é a sua capacidade de gerar ideias, diálogos e descrições com agilidade. Para autores que enfrentam o temido “bloqueio criativo”, o modelo pode atuar como um verdadeiro catalisador, oferecendo sugestões, desenvolvendo personagens ou até simulando diálogos com fluidez surpreendente. Em muitos casos, o ChatGPT ajuda a sair da estagnação, permitindo que o escritor volte ao eixo da narrativa.
Outro ponto relevante é a produtividade. Profissionais com prazos apertados — especialmente roteiristas de TV e cinema — encontram na IA uma parceira para elaborar sinopses, esboçar cenas e revisar trechos rapidamente. Embora ainda demande o toque humano para garantir coesão e originalidade, o ChatGPT é útil para criar estruturas iniciais que depois podem ser lapidadas.
Além disso, há uma democratização do acesso ao processo criativo. Autores iniciantes, que muitas vezes não dispõem de orientação técnica ou formação específica em escrita, podem usar o ChatGPT como uma ferramenta de aprendizado — experimentando diferentes estilos, estruturas narrativas e até construindo universos ficcionais mais complexos com auxílio da IA.
Os contras: risco de padronização, ética e dependência
No entanto, o uso da inteligência artificial também carrega riscos significativos, especialmente quando se trata da originalidade e da ética autoral. O primeiro ponto crítico é a padronização. Como o ChatGPT é treinado com base em grandes volumes de texto disponíveis na internet, ele tende a replicar fórmulas, estruturas previsíveis e clichês narrativos. A criatividade genuína, aquela que rompe com padrões e surpreende o leitor, ainda é território majoritariamente humano.
Outro aspecto preocupante diz respeito à autoria. Até que ponto um livro gerado com auxílio intenso da IA ainda pode ser considerado “autoral”? Embora a ferramenta funcione como suporte, há quem a utilize quase como ghostwriter, levantando discussões éticas sobre propriedade intelectual. O problema se agrava quando textos inteiros são publicados sem qualquer menção ao uso de inteligência artificial — o que pode configurar uma forma de plágio indireto.
Por fim, há o risco da dependência. Se o autor se acostuma a escrever apenas com a ajuda da IA, pode atrofiar suas próprias habilidades criativas e analíticas. O ChatGPT deve ser visto como instrumento de apoio, não como substituto da voz autoral. A literatura e o cinema, afinal, são expressões humanas por excelência — repletas de contradições, nuances e sentimentos que algoritmos ainda não são capazes de replicar com profundidade.
Conclusão: uso consciente e crítico
O ChatGPT, como toda tecnologia, não é nem vilão nem salvador. Seu valor está no uso que se faz dele. Para escritores, representa uma ferramenta poderosa — desde que manejada com consciência crítica, ética e criatividade. Em vez de temer a IA, o melhor caminho talvez seja aprender a dialogar com ela, sem perder de vista aquilo que nos torna únicos: a capacidade de imaginar mundos que nenhuma máquina, sozinha, seria capaz de sonhar.
Artigo de opinião de Patrick Sousa
Patrick Sousa é autor, professor e jornalista. Com mais de 11 livros publicados na Amazon, transita entre a literatura e o cinema, explorando temas como suspense, crítica social e relações humanas. Já apresentou o programa “Papo Cultural” na TV Nestante, onde entrevistou artistas e escritores de diversas regiões do país.
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